quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

28/1/2008 - Hospital São Paulo

Segunda-feira
Horário: das 19h às 21h


¿HOLA, QUE TAL? YO SOY MIGUEL EDUARDO FERNANDEZ, Y ESTOY ENAMORADO POR TI!





Boa apresentação, não? Esse foi meu novo amiguinho circulando pelos quartos da Clínica Médica Feminina, diretamente de Novo Mexico!!!

Bom, na verdade veio diretamente de Fortaleza, do Centro Cultural Dragão do Mar, o que me é uma deixa para contar a história de Russas que vivi semana passada, com os voluntários do Itaú. Visitamos o Projeto de Erradicação do Trabalho Infantil nesse município de pouco mais de 60 mil habitantes, no sertão cearense, onde as crianças trabalhavam em olarias de 45 graus, fabricando telhas e tijolos. Atualmente, todo o trabalho infantil foi erradicado, e existem projetos e atividades de manutenção das crianças na escola e nas ações socioeducativas complementares à escola.

Essa é uma ótima deixa pra falar de voluntariado e, arriscando-me, até de cidadania. Na verdade, poucas pessoas respondem que já tiveram alguma experiência como voluntárias, mas elas estão sempre ligadas a algum projeto social.

Bem, voltando ao que interessa, saindo do meu iscudilixo secleto, fiquei longas horas (medidas no meu relógio biotônico) conversando com a dona Nazareth, nobre moradora do bairro de Itaquera e figurante do cenário hospitaleiro conhecida como FAXINEIRA. Uau, eles têm um estribôncio de lavar o chão animal! De um lado, compartimento secreto e azul para molhar o esfregão. De outro, compartimento mais secreto ainda e vermelho, onde não se pode encostar o esfregão, mas é para onde escorre a sujeira espremida no compartimento menos secreto superior e amarelo, onde se aperta o esfregão como se fosse laranja doce. Sensacional, adorei e quero um pra casa.

Entrando na CPMF – Clínica P. Médica Feminina, já dei de cara com a senhorita Helena saindo do banheiro com seu poste de soro e rodinhas super sexy, e sua mami. Ela fez aquela cara de vassoura recém-usada, espantadíssima e alegríssima, dizendo “finalmente você voltou!”. Lembrou-se que eu me alimento somente de alpiste e penou-se por não ter nenhum no momento.

Bem, logo entrei no quarto da Grace Cristina e da Dona Ana e Lucia, sua filha, ambas de Barretos. Céus, esse quarto me deu trabalho! Não é que a Grace tinha I FEEL GOOD no celular e acabamos dançando a música inteira várias vezes? Porque toda vez que um novo alguém se adentrava por aquela porta, começávamos tudo de novo... E, é claro, na parte do IN MY ARMS, eu acabava cantando um pouco mais alto que o permitido, mas é impossível não fazê-lo!!!

Quando eu já estava pingando maquiagem pelo chão, decidi parar de dançar um pouco e cantar, apenas. Ufa. Bem melhor! A Dona Ana, que insistia que seu nome era Bolinha, em homenagem ao cachorrinho de dois anos de idade que reside em sua fortaleza, era irônica que só ela. Nunca se gargalhava. Ela ria por dentro. E fazia cara de séria pra tirar a gente do sério. Incrível! Essa daria uma ótima palhaça. Sua filha, em compensação, se rolava de rir. E quase teve câimbra vocal quando a senhorita Maria Helena adentrou-se ao quarto e fizemos uma dança sensual em seu poste de soros. O poste virou a sensação!!!

O próximo quarto, assim, teve que ser o da Heleninha. Sua vizinha, Izabel, estava com cara e bochechas de saco cheio. Enquanto Helena, empolgadíssima, mostrava seus sapos de pelúcia dançantes, cantando e tirintando, Izabel suspirava de alívio pulmonar e revirava os olhos como que procurando moscas em torno de si.

A princípio, Izabel desabafou um pouco de seu tormento de espera pela saída, mas já logo entrou na dança e ficou em altos papos com MIGUEL EDUARDO FERNANDEZ, el mexicano más hermoso del barrio. Bom, isso foi ótimo, porque eu já estava cansada de falar.

Último quarto: Sarah, sua filha Elen e sua sobrinha Sheila. Não é que elas estavam com um livro de piadas na mão? Mas só percebi bem depois que eu as importunava. E, na verdade, o livro era a maior roubada, pra variar. A dona Sarah já não conseguia nem disfarçar que parecia engraçado...




quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

07/01/2008 - Hospital São Paulo


Segunda-feira
Horário: das 19h às 20h30
Eu sabia que palhaço não foi feito para criancinhas. Coitadas. Ô, judiação! Mal saí do sétimo andar, e uma menininha já me viu de longe e começou a chorar. E justo hoje, que eu comi uma esfiha e uma água de côco na lanchonete do hospital! Eu estava toda preparadona, sem morrer de fome, como é usual... O que significa que eu não estava a fim de comer criancinhas, mas como explicar isso a ela?
Tudo bem, hoje fui um pouco mais direto ao ponto. Eu só parei no andar de baixo, onde duas moças esperavam pelo pai no corredor. Estação cardíaca. Como elas estavam muito atribuladas ao celular, resolvi não ser tão inconveniente e vazei pro terceiro andar.
Ah! Quanto tempo eu não ia à Clínica Médica Feminina! Que soooodades!!!
Até as enfermeiras foram superlooper simpáticas comigo! Geralmente elas estão ocupadas demais...
Bom, no primeiro quarto conheci a Tati, uma menina que estuda psicologia e estava lendo aquele livro que fala dos monges e dos empresários... E a Dora, que estava acompanhando a mãe, que por sua vez dormia. A Dora é de Barretos, mas só foi uma vez à Festa do Peão! A Tati é de SP mesmo, e estava quase de saída. A Dora sambou pra mim. Meu Tuiuiu sambou pra ela. A Tati, por sua vez, é forrozenta, e o Tuiuiu quis tirá-la para dançar, mas ela preferiu se abster do passo. As duas eram um sorriso só lindo! Era o quarto da alegria. Uma delícia! A mãezoca da Dora ia melhorar loguinho, tenho certeza!
Já no segundo quarto, conheci a Eliete, que me disse estar depressiva. Hm, ela tinha muita energia por dentro, mas estava reprimindo de teimosa. Ela tinha um sorriso escondido e bonitinho, mas insistia em disfarçar com uma boca torta de birrenta. Boba, porque quando deslanchou no papo, era a mais faladeira. Contou tanto!
Uma pérola da Eliete foi quando ela contava, com orgulho, da profissão dela de diarista... Um dia, o advogado pra quem ela trabalha perguntou: “Você gosta mesmo de fazer isso?”, e ela: “é claro! Senão, não fazia.” Ela dizia que gostava de chegar e transformar a casa, sair com a casa limpinha. Dava orgulho. Linda!
Também fico contente de sair com a casa limpinha.

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Patch Adams no Roda Viva

TV Cultura, 5/11/2007 (gravação em 4/9/2007)


O programa foi indescritível. Não sei porque, me emocionei muito mais que “ao vivo”, na palestra “Humor and Health” e no workshop “What’s your love strategy?”. Talvez seja pela TPM, ok, pode ser, mas ele pareceu mais dono do controle no programa. Foi incrível.
Não vou contar todo como foi; ele repetiu muitas das idéias, conceitos, opiniões, posicionamentos, etc. Tudo fantástico. E o mais incrível: em nenhum momento ele citou o palhaço. Todo o trabalho em favor da mobilização social era político, econômico, social, ambiental, vital, tudo o que você possa imaginar.

Ah, e uma coisa nova eu pude aprender; e como.

O apresentador Cunha Jr. apresentou um depoimento pessoal: ele estudou medicina, mas se frustrou com uma série de situações, muito semelhantes às relatadas no filme “Patch Adams – O Amor é Contagioso”, com Robin Willians. Pacientes tratados simplesmente como fígados com câncer, corrupção, controle da indústria farmacêutica, sobreposição dos lucros à saúde dos pacientes, negativismo, etc. Hoje, ele é jornalista, e com isso é feliz.

Bem, Patch acenou com a cabeça, concordando enquanto o apresentador falava, e então começou: “São pessoas como você que não consigo entender. Vê as coisas acontecendo erradas, e não faz nada para mudá-las, simplesmente desiste! E ainda pensa ser jornalista, você acha que jornalismo existe? Ou também não são corporações sobrepondo seus interesses lucrativos sobre a informação que a população acessa?”. E então ele continuou atacando muito a televisão e as grandes emissoras; e insistiu na primeira questão, que foi a que realmente me tocou. Eu juro que não esperava por essa reação, e é simplesmente lógica, simples e genial!

Quantas vezes nos omitimos de fatos que acontecem diante de nós??? De crianças esmolando na rua? De uma amiga que é molestada pelo namorado? De um colega que sofre preconceito no trabalho? De um político que não é julgado? E a gente simplesmente reage dizendo que o mundo é injusto, de não acreditar que as coisas sejam assim. E não suportamos ter que conviver com isso. E vamos procurar outra coisa para fazer para que possamos contribuir de uma outra maneira (estou sendo otimista com o exemplo de pessoas que procuram contribuir).

A incoerência do mundo que vemos é também a nossa. Eu faço parte do mundo que vejo todos os dias, e se eu não fizer nada para mudá-lo, também contrariarei minha própria ética.

Eu quero enfrentar de frente o mundo em que vivo, com seus prós e contras, e quero fazer tudo o que estiver dentro do meu alcance e dos meus valores para, ao menos, dizer que fiz e exigir que os outros também o façam.


5/11/2007 – Hospital São Paulo

Segunda-feira
Horário: 19h – 21h15

Uau. Uma hora e meia pra apenas um paciente, que nem era da minha área!

Ele estava no corredor, mas em frente a uma porta cuja placa dizia algo como: “Doenças contagiosas e infecciosas”. Pensei, pronto! Peguei piolho. Mas dois travessões depois do “oi” ele já contou que era apenas HIV.

Bem, assim pelo menos eu dava uma variadinha, já que ele estava tão disposto a conversar. Ô moço simpático, achou ridícula a forma como eu estava vestida, ainda mais sem ganhar nada. Haha coitado, ainda não sabia que eu ia cobrar 10 reais na saída...

De qualquer forma, ele começou a desembuxar a vida. Essas coisas comuns, nada de grandes segredos, a única coisa que ele ainda temia era compartilhar a notícia da doença com os colegas, uma vez que ele mora em uma igreja presbiteriana. Ah, mas não pense “esses pastores pervertidos, nossa senhora!”. Ele é convertido há cerca de 10 anos, apenas; e no momento tinha 55 primaveras.
“Estou pagando uma coisa de 15 anos atrás. Exatamente 15 anos. Eu sei exatamente o que foi”. Uma pessoa de extrema e elegante eloqüência, ágil com as palavras, metafórico, subjetivo; eu diria até poético em suas histórias. Sinceramente.

E o melhor de tudo foram os nada de grandes segredos; a cada 10 minutos, ele começava a descrever uma diferente situação em que viveu. E que vida sem emoção. Alcoólatra, toxícólatra (?), uma outra expressão para fumante obsessivo, morador de rua, catador de papelão, detento, etc, etc, etc. E contou todos os detalhes. Apostas na detenção valendo maços de cigarro (Minister era a grande moeda), queimadas de cigarro na barriga em sua primeira internação clínica, bebericadas em uísques de umbanda (em um terreiro que freqüentou por três anos e meio), aventuras noturnas na cracolândia, amizades com prostitutas-traficantes, experiências homossexuais (mas nunca passivas!), uma filha e um neto de pouco mais de um ano de idade, os livros que leu, sua impressão sobre o filme Carandiru (“se cadeia é aquilo, quero voltar pra lá!”), e enfim a redenção a Deus.
Suas olheiras mudavam de cor conforme mudava suas histórias. E ele contava sem pudores (“não vou mais te ver, certo? Posso dizer tudo. O pastor da minha igreja sabe exatamente tudo isso, e mais”). Detalhes. Racionalidade. Apuração de fatos e impressões. A sensação de fumar chá porque não havia cigarro. A perspectiva dos colegas viciados em crack. Sem momentos piegas. Nem hipócritas. E a intenção em cada palavra, a medida certa para cada entonação.
O incrível foi despedir-me dele encarando seu olhar de santo. De um senhor religioso. “Vá com Deus”.

Bem, dadas as 21 horas, apenas passei pelos corredores dos sete andares abaixo, interagindo com os transeuntes. E voltei, reflexiva e impressionada. Ele ainda teria que ouvir “você estava infectado esse tempo todo e nós usamos os mesmos pratos???”.

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

20/10/2007 - Hospital São Paulo

Sábado
Horário: 19h - 21h30


Hmm hoje eu fiz um melhor amigo! Foi demais! Demorou um pouco pra ele dizer que me amava, mas depois de uns 40 minutos visitando juntos alguns quartos, ele assumiu. É um menino graduando chamado Ricardo, do quarto ano, que sofreu um coma antes de entrar na faculdade e ainda sofre algumas sequelas. Ele estava de passagem pelos quartos, e de repente contava mais piadas que eu. Ele estava ali por conta de uma paciente, cujo tratamento ele acompanha, a dona Maria Aparecida, uma negona linda e forte, com dois filhos mais lindos ainda, um de 16 e outro de 18; é claro que já viraram meus namorados.
Hoje o dia foi uma alegria. Era incrível como todos me amavam. Eu nem precisava insistir muito, era só perguntar e todos concordavam! Quero dizer, quase todos. Duas pessoas somente resistiram. O meu melhor amigo, de início, e a Márcia, lembra dela? Ela estava com o maridão na minha última visita ao hospital, toda radiante. Bem, quando cheguei no terceiro andar, ela estava sentada nas poltronas ao lado do orelhão, e de cara me reconheceu (apesar de eu estar com a maquiagem bem atrapaiada). Ficamos trocando a maior idéia, até atendemos um telefonema e tivemos que chamar umas pessoas na clínica médica masculina. Acontece que ela tem um problema chamado formigas nos pés, e não consegue ficar parada. Anda o dia todo. O médico, na verdade, diagnosticou que ela é peralta. E que o problema que ela tem na cabeça chama-se loucura, isso sim. Menina louca. Nâo parava de jeito nenhum, em todos os quartos nos quais eu passava ela estava lá. Arrecadava comidinhas pra todo lado. Conversava com todo mundo. Ela estava com o braço roxinho, roxinho, e o médico nem conseguia mais encontrar veias para dar uma picadinha. Então ele teria que picar o pé. Pronto! Foi a maior afobação! Imagine ela, sem poder andar pra lá e pra cá? Nunca!!!
A dona Lucinda estava com a filha, que parecia que tinha a cara meio trancafiada, mas vi que não era séria. E a dona Maria também estava ainda no leito ao seu lado, mas seu estado não estava muito reconfortante. Ninguém consegue entender o que ela diz, pois está toda entubada e tem muita dificuldade em se expressar. Mas ela continua tentando. Eu conversei com ela, apesar de não estar entendendo bem o que ela dizia, paralelamente aos alertas da Dona Lucinda de não me aproximar e nem tocá-la (a placa reforçava que ela estava em condições de isolamento). E, na saída, ela dizia: "obrigada, tchau!"...
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Às vezes me dá um desânimo de ir até o hospital. Principalmente porque tenho andado muito cansada e cheia de trabalho e responsabilidades. Pouco tempo pra mim mesma. E tenho medo de que o hospital seja uma sobrecarga para a minha falta de atenção comigo mesma. Mas então eu lembro do porque me comprometi com esse trabalho, e eu levo muito a sério esse negócio de palavra. E também me recordo da Roberta, do Centro de Voluntariado de SP, respondendo a uma colocação de um funcionário do Itaú, durante uma de nossas palestras. Ele dizia: "eu nem sempre ia até a creche, porque sei que se eu não estiver bem, descansado, feliz e sob todas as condições, posso não fazer bem às crianças", e ela: "quando você não acorda bem, descansado, feliz e sob todas essas condições, não vem trabalhar no Itaú, não?".
Tipaf!!!!!!!!!!!!!!!!!
E é gol.

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

01/10/2007 – Hospital São Paulo

Horário: das 19h às 21h30




Quase 30 minutos só no corredor das neurocirurgias, por conta de uma moça que estava esperando uma senhora, que já estava com alta, desocupar o quarto. Ela estava lá desde as 16h esperando, e era 19h! Estava ela e a vizinha. Ela era cearense e forrozeira de primeira hahaha pena que não quis dançar comigo no corredor.

Na clínica médica feminina, conheci uma menina que já estava de saída. No quinto semestre de contabilidade, ela quis saber mais sobre minha graduação em besteirologia, mas eu disse que pra saber mais ela tinha que topar um quis-bate-bola-passa-ou-repassa. Arredou.

No primeiro quarto, conheci a dona Lucinda e a nora, uma fofa. A dona Maria não conseguia falar, apenas gesticular os lábios, mas cantei Maria, Maria pra ela e ela não parava de rir. Será que eu cantei tão mal assim???

A Ritinha era linda, e estava lendo vários livros pois quer ser assistente de enfermagem. Ela disse Deus-me-livre quando perguntei se ela estava fazendo estágio prático no leito, mas deu muita risada.

A dona Marcia estava toda sorridente com o maridão Cristiano ao lado. Radiantíssima, e está internada desde o dia 10 de agosto. Fazendo uma série de exames e tratamentos para evitar uma cirurgia que remova pus do cérebro. Não entendi direito o que ela pôs, mas ela também não soube explicar.

A dona Nilda, por sua vez, estava bem branquinha de anemia, e estava estreando um conjunto de tubinhos que não a deixavam dormir de lado. Mas também foi superdivertida.

O residente Ernesto, que negou ser chamado de Che, disse que me amava mesmo tendo namorada. E as mocinhas da limpeza que estavam no sétimo andar descobriram minha identidade secreta porque ficaram fazendo plantão no corredor, até eu terminar de me trocar! Vê se pode!



domingo, 30 de setembro de 2007

17/09/2007 - ReciclaCanto


















Um curso de assedentarismo avançado.

16/09/2007 - Domingão Cidadão

Aproximadamente 30 Doutores Cidadãos se reuniram no Hospital Regional de Osasco.



Mais fotos: http://www.cantocidadao.org.br/fotos.php?GaleriaId=19.

terça-feira, 11 de setembro de 2007

Remoticidade


Traking e recording pelo controle remoto. Devolve, me dá, não faz para me provocar.


Trocando o canal, viajei nos cordões de uma viola redonda de aço, catei coquinho de chapéu de palhaço, mergulhei nas águas de março de um ano trissexto. Senti perfume de cola quente, descobri o Brasil por São Vicente, respondi à vidente porque tanta gente pergunta. Li entrelinha de tricô, lavei o cabelo onde se faz cocô, inventei clichê default de poema libertário.


Troca o controle remoto, mãe, troca, que tudo está sem controle. O controle não funciona, mãe, perdi o controle, não encontro em lugar algum. Mãe, me ajuda, por favor! Mãe, eu não consigo assim... Eu quero meu controle, me dá o controle de mim!


Troca o canal, você está cortando o remendo improvisado, misturando Chico com Frank dos teclados, falando tudo errado só porque é gramaticalmente correto. Assoprando vela de sete dias, consolando mendigo que já não bebia, recolhendo garrafa vazia pra encher a geladeira.


Devolve o controle, que sem controle não faço nada! Mãe, sozinha eu não controlo, me bota no colo e me faz voltar a controlar. Segura minha mão, mãe! Me ajuda a manipular. Manipula, mãe não pula, que eu controlo e quero de volta o controle remoto, mãe... Mãe, o desespero é alentador, me arranja um controle remoto, remonta a dor, rebobina a controvérsia, pausa o descontrole. Eu nunca quis perder o controle, não escolhe por mim, mãe. Eu quero independência, me dá de volta o negocinho que avança pra frente e volta pra trás, coloca ordem e pula as fases, mãe me deixa. Eu quero tudo, mãe, tudo! Tudo sob controle!!!

domingo, 9 de setembro de 2007

08/09/2007 - Hospital São Paulo

Início: 12h15 / Término: 14h


Numa saga indescritível, comprei novas luvas e chapéu pela manhã, na Ladeira Porto Geral. Ainda encontrei uma amiga nas catracas do metrô que já me avisava de antemão que a rua estava impossível - “boa sorte”. Ainda bem que a loja ao lado da entrada da estação do metrô tinha tudo o que eu precisava; meu infortúnio fora atravessar um oceano de carne e cabelos com uma mochila gigante. E, como se não bastasse, ainda me lembrei que havia esquecido meu jaleco em casa. POATZ.



Com isso, cheguei ao hospital às 11h50, mas a alegria lava a alma, minha gente! E desodorantes emergenciais servem pra isso mesmo. Acabei me trocando e me maquiando demasiadamente depressa, e nem fiz um break-relaxing. Confesso que isso faz falta. Iniciar as mil interações sem fazer um momento de silêncio não foi muito saudável, pois senti uma grave queda de energia ao terminar, e fiquei o dia inteiro acabada. Lembrete: sempre fazer relaxamento antes de sair do minúsculo banheiro, mesmo que haja fila.



A clínica de endocrinologia e cirurgias torácicas não é de minha abrangência, mas como o banheiro fica nesse território, não há como evitar olhares e sorrisos interessados quando ainda estou de mochila e fechando a porta. Assim conheci o enfermeiro Douglas, a menina Débora e sua mãe, Iraci. Duas graças, a filha de 16 anos e a mãe de 42. Depois de longas risadas, Débora me levou para visitar Ana, uma moça paraguaia que estava num quarto próximo.



Bem, nada como um hospital para treinarmos castellano, no? Ana e Rita, sua vizinha (suavezinha?)de cômodo, depois até me ouviram ler uma crônica de Luis Fernando Veríssimo.
No terceiro andar, conheci mais algumas moças – Iraci Adriana, que é chamada pelo primeiro nome no hospital, mas gosta do segundo, e dona Maria José e sua irmã. Maria José e sua irmã são analfabetas, e a segunda teve 12 filhos, mas hoje estão vivos apenas 5. São ambas de Recife e donas-de-casa.



No outro quarto, encontrei novamente a dona Oneide (quero dizer, eu, como quase todos, achava que era Neide), com uma nova colega, a Miriam. A Oneide me viu do lado de fora do quarto e já começou a gritar “cadê meu nariz? Cadê meu nariz?”, achei bárbaro! Ela está há exatamente um mês internada, ela não esperava tudo isso. Está em recuperação de um processo depressivo, mas parece bem melhor! Falante, empolgada, mas com mais aparelhagens em torno de si. É claro que as duas ganharam um nariz cada, e caíram na gargalhada quando contei até três e se entreolharam sobre as “bolas rojas”. Lindas e radiantes. Miriam trabalha na lavanderia do hospital e já estava se recuperando.



Duas horas e sete pessoas; minha média está interessante. Não consigo entrar e sair de um quarto sem garantir que o paciente esteja conversando bem, principalmente que esteja conversando com seu colega de leito... Se tem uma coisa que aprendi com a vinda do Dr. Patch Adams, é que a “amenização” não pode estar somente no momento em que o voluntário está no ambiente, mas sim na transformação do mesmo...